1989 chegava ao fim e “Pump up the jam” do Technotronic mostrava ao mundo como seria o som das pistas nos anos 90. Se é verdade que a música reflete os acontecimentos do mundo, eu arriscaria dizer que os anos 80 foram a década do rock e os anos 90 foram a década da música dançante.
Anos 80
A década de 80 foi marcada por muitas guerras, conflitos e golpes. Foi o auge da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética que brigaram pelo domínio do mundo, teve a Faixa de Gaza, diversas guerras civis, golpes militares e muitos conflitos.
Foi uma década de muitas ameaças nucleares e o mundo quase se transformou em holocausto nuclear até que os presidentes Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov assinaram um acordo de paz.
A fome na Etiópia fez a música unir o mundo com o mega festival Live Aid. Em 13 de julho de 1985, os músicos Bob Geldof e Midge Ure reuniram astros e estrelas da música para realizar concertos simultâneos no Wembley Stadium em Londres e no John F. Kennedy na Filadélfia que receberam quase 200 mil pagantes e mais 1,5 bilhão de espectadores, em mais de 100 países, acompanharam os shows ao vivo.
No mesmo ano, Michael Jackson e Lionel Richie criaram o projeto USA for Africa, que reuniu 45 artistas norte-americanos e gravaram a música “We are the world”. Como resultado, cerca de 100 milhões de dólares foram arrecadados e destinados a ajudar as vítimas da fome e doenças na África, principalmente na Etiópia.
A década de 80 começou com John Lennon de volta aos estúdios e às paradas de sucesso e terminou com o líder dos Beatles sendo assassinado após voltar das gravações de seu novo álbum, na entrada de seu prédio.
Michael Jackson foi o ícone da década com suas luvas brilhantes, jaqueta de couro e passos de dança que o mundo não cansou de imitar. Seu álbum Thriller, lançado em 1982, virou o mais vendido de todos os tempos, com mais de 100 milhões de cópias.
E no Brasil?
O Brasil vivia a ditadura militar e ao longo da década pressões por eleições resultaram no movimento “Diretas Já”. As diretas não tiveram o efeito que se esperava, uma vez que o Congresso ainda era controlado pelo governo, mesmo assim um presidente civil foi eleito: Tancredo Neves.
No entanto, Tancredo faleceu e não chegou a assumir o cargo, o que levou seu vice, José Sarney, a assumir a presidência da República.
Do ponto de vista econômico, os índices de endividamento eram altíssimos, vários planos econômicos fracassaram e a década de 80 ficou conhecida com a década perdida que terminou com uma hiper inflação.
O surgimento dos grandes artistas
Num mundo nervoso e cercado de incertezas, os riffs de guitarra ficaram mais pesados, as batidas mais fortes e o heavy metal se transformou em marca registrada da década. Foi a época de Iron Maiden, Judas Priest, Metallica, Megadeth, AC/DC, Van Halen e Def Leppard. Também surgiram novas bandas de rock como Whitesnake, Scorpions, Survivor e Bon Jovi, que marcaram presença na primeira edição do festival Rock in Rio, que aconteceu no Rio de Janeiro, entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985 e recebeu 1,5 milhão de pessoas, o equivalente a cinco edições do Woodstock.
Não podemos esquecer do Guns N’ Roses, que vendeu 40 milhões de cópias de seu álbum de estreia, em 1987.
O Rock Brasil explodiu nas paradas de sucesso e surgiu uma geração de novos artistas como Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Lulu Santos, Blitz, Titãs, Marina Lima, Ultraje à Rigor, Kid Abelha, Metrô etc.
Outro grande nome dos anos 80 foi Rita Lee, que se consagrou nos anos 70 mas soube se reinventar e emplacou um hit atrás do outro nas paradas de sucesso, como “Lança perfume” – que ficou dois meses em 1º lugar na França e bateu a sétima posição na parada da Billboard antes de ser lançada em diversos países da Europa e América Latina, “Baila comigo”, “Caso sério”, “Saúde” e “Banho de espuma”, só para citar algumas músicas.
Os anos 80 também consagraram artistas como U2, The Police, Madonna, Duran Duran, Eurythmics, Tears For Fears, A-ha, Cyndi Lauper, Tina Turner e Prince. O New Wave e o Synthpop de artistas como Depeche Mode, New Order, Human League e Pet Shop Boys também fizeram muito sucesso, dando início à música eletrônica.
A primeira banda eletrônica de sucesso no Brasil foi o RPM, que fez todo mundo dançar e vendeu mais de 5 milhões de discos.
A MTV chegou e causou uma revolução no mundo da música, exibindo videoclipes e lançando VJs.
O hip hop explodiu nas paradas de sucesso e o clima underground de bandas mais alternativas dariam origem ao Grunge que deixaria sua marca registrada nos anos seguintes.
Anos 90
Os anos 90 começaram com otimismo e esperança e logo foram chamados de “tempos prósperos”.
Foi uma década marcada pela popularização da internet e do computador pessoal. Tudo começou com o colapso da União Soviética. O fim da Guerra Fria trouxe efeitos colaterais como ataques terroristas.
A globalização tomou conta do mundo e os jovens adotaram o estilo Grunge para se expressar com roupas, tatuagens e piercings ao som do Nirvana, Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers e Foo Fighters. Na reta final da década de 90 o punk rock voltou a ganhar força e as bandas Green Day, Offspring e Blink-182 conquistaram o público.
A cultura da música eletrônica explodiu e, junto, o consumo de novas drogas, como o ecstasy.
Já no Brasil
Aqui no Brasil, os ritmos populares dominaram as paradas de sucesso. As duplas sertanejas Leandro & Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó ganharam programa na TV e viraram os Amigos mais queridos do país.
O pagode romântico também fez muito sucesso, o samba de Zeca Pagodinho conquistou o país e a dupla de dançarinas do É o Tchan colocou todo mundo dançar e requebrar na boquinha da garrafa.
O tempero baiano ainda revelou novas nomes, como Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Netinho. Mas foram os tambores do Olodum que embalaram a conquista do tetra na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos.
O funk carioca ganhou identidade própria e revelou nome como Claudinho e Buchecha.
A música Pop-Rock esteve muito bem representada pelas bandas mineiras Skank e Jota Quest. Mas o grande destaque da década foi a banda Mamonas Assassinas, com quase 2 milhões de discos vendidos e um fim trágico num acidente aéreo que comoveu o país.
Acontecimentos no Brasil
Ayrton Senna conquistou o tricampeonato em 1991, na pista de Suzuka, no Japão. O circuito japonês foi palco de todos os títulos do piloto.
Três anos depois, no dia 1º de maio de 1994, Senna sofreu uma batida violenta e fatal, na sétima volta do GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Foi uma comoção nacional e cerca de 1 milhão de pessoas foram às ruas se despedir do seu maior ídolo.
O governo decretou três dias de luto oficial e concedeu ao piloto honras de chefe de Estado.
Enquanto isso, o presidente Fernando Collor confiscava o dinheiro dos brasileiros nas cadernetas de poupança e os jovens criaram o movimento “Caras Pintadas” para pedir o impeachment de Collor, que acabou renunciando e o cargo foi assumido pelo seu vice, Itamar Franco.
O Ministro da Fazenda do novo governo era Fernando Henrique Cardoso, que implementou o Plano Real, controlou a inflação e se elegeu presidente por duas vezes consecutivas.
No início da década, as grandes gravadoras aqui no Brasil decidiram brigar com as rádios jovens e acabou surgimento oportunidade para novos artistas que até então só eram conhecidos nas pistas de dança.
O Boom dos Artistas
Era um ritmo mais energético, com batidas aceleradas e estouravam um hit atrás do outro. Muitos artistas e projetos eram lançados por selos independentes que surgiam em todos os cantos da Europa.
Nomes como Double You, Ice MC, Corona, DJ Bobo, Savage, Whigfield, Culture Beat, 2 Unlimited, Blackbox, La Bouche, MC Sar & the Real McCoy, Masterboy, Captain Hollywood Project, Fun Factory, Taleesa e Nicki French dominaram as rádios e as pistas de dança do mundo inteiro. Esse foi o som que acabou deixando sua marca nos anos 90.
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